CINZAS AO VENTO
(meu réquiem)
NILSON SANTOS*
E quando
fizer a viagem,
Aquela,
que ninguém quer fazer
Mas que
não se pode fugir;
Quando
chegar minha hora,
Da
travessia, sem turbulências
Para
o além...
Não,
nada de olhos marejados,
Águas
cristalinas manchando meu rosto frio,
Não me
deixem mais infeliz
Porque
de lágrimas foi todo o meu cansado viver
E quando
chegar o momento,
O meu
momento,
Quero
alegria ao redor,
Música
Sorrisos;
Que
toquem Roberto Carlos,
Cantem
comigo minhas canções preferidas,
Recitem
meus poemas,
Que mofam
em gavetas empoeiradas...
- Essa
água cristalina,
não vai
regar meu corpo frio,
Que jaz
inerte no barco
Da última
viagem
Não,
Não sofram
pelo que já não sou mais
Não lamentem,
Porque
nunca fui;
Várias
lutas travei,
Minhas
e de outros também,
Se venci,
se perdi,
Não sei
Só espero
não ter “passado” por aqui em vão
Vãs
batalhas,
Vencidas
e perdidas;
Doloridas...
E
quando fizer a “passagem”,
Não permitam...
Por favor,
respeitem
meu último refrão
Não permitam
que germes e micróbios,
Tatus
que por aí vagueiam,
Venham
consumir este corpo
Tão calejado
e tão cansado,
De muitas
batalhas perdidas
Tão inerte,
e já sem forças para se defender
Então,
Que esse
corpo, rígido e frio
Seja
aquecido nas chamas,
- Não
no calor do sol
- Não
no clamor da terra
Mas que
seja aquecido
No ardor
da fogueira,
Para
que possa levar n’alma
As alegrias
de São João
Ah;
E que
minhas cinzas,
Que estas
sejam atiradas ao vento,
Deixem
que se espalhem pelo ar,
Que se
percam no tempo;
Que minhas
cinzas sigam com a brisa do arrebol,
Para
a liberdade de poder voar,
Voar,
voar...