“Os tiranos e bárbaros
antigos tinham, por vezes, mais compreensão real da justiça que os civilizados
e democratas de hoje. Não arrastemos o Brasil ao escândalo de se dar em
espetáculo à terra toda como a mais fútil das nações, Eia, senhores! Mocidade
viril! Inteligência brasileira! Nobre nação explorada! Brasil de ontem e
amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta.”
Este trecho foi retirado
do discurso do jurista baiano, Rui Barbosa, proferido em 1920 aos formandos em
Direito da Universidade de São Paulo. Como pode um discurso de 93 anos ainda
ser tão atual?
A Câmara dos Deputados
presenciou ontem, desde a redemocratização em 1985, um de seus dias mais
nefastos. Entendeu-se que um deputado federal condenado a 13 anos de reclusão,
com sentença transitada em julgado e que chegou algemado ao Plenário não
deveria perder o mandato.
Fomos 233 os que entendiam que a situação era
insustentável, mas a abstenção de 41 e a negação de 133 mantiveram o mandato do
deputado federal.
O Plenário da Câmara dos
Deputados rasgou a Constituição Federal, rasgou a memória de seus ilustres
antepassados (dentre os quais estão Jorge Amado, Ulysses Guimarães, Nilo
Peçanha), rasgou a sua própria imagem e rasgou todo o processo de moralização
pelo qual passava a casa.
Atendendo aos clamores das ruas, votamos contra a PEC
37, a favor dos royalties do petróleo para educação e saúde, corte de gastos internos,
direitos das domésticas, passe livre para estudantes, mas esqueceram um projeto
fundamental: o fim do voto secreto.
A decisão pela não
cassação só ocorreu, e falo sem medo de repercussões, porque muitos
parlamentares esconderam-se atrás do voto secreto. Se amanhã estivesse
estampado nos jornais o nome de cada deputado e como votaram, o resultado seria
outro, assim como foi com a PEC 37.
O que ocorreu ontem foi uma mistura de
corporativismo, com amizade pessoal e piedade pela situação carcerária do deputado
Donadon, todas ocorridas sob os mantos do voto secreto.
O deputado de Rondônia
argumentou que era tratado “como um preso comum” e que logo antes de vir “havia
faltado água e precisei pedir água emprestada ao meu colega carcerário”.
Esta,
meus caros, é a situação em que vivem TODOS os detentos deste país, sem
exceção, não existe presídio agradável. Ser tratado igual a todos não é
vergonha alguma e muito menos justifica a manutenção do mandato.
Isto poderia
servir de exemplo para que esta Casa votasse projetos que melhorem a qualidade
de vida dos encarcerados ou uma reforma da Lei de Execuções Penais, que é de
1984 e clama por uma reforma, mas nunca a absolvição do deputado Natan.
Porém,
não foi isso que 172 deputados entenderam.
Por sinal, a Câmara não
estava julgando se o parlamentar era ou não inocente.
O STF, após a oitiva
probatória e análise dos pareceres de ambas as partes, bem como a garantia de
ampla defesa ao deputado, já tinha pronunciado seu veredicto.
Não tínhamos
condições técnicas – até porque não analisamos o processo – e legais de
realizar um novo julgamento.
Estávamos imbuídos, somente, de dar uma resposta
àqueles que nos escolheram para bem representá-los e referendarmos a decisão do
STF.
Não somos um órgão revisor de decisões judiciais.
O desfecho de tudo isto
é um conflito sem precedentes entre dois Poderes.
Um gritante desrespeito a uma
decisão do Poder Judiciário e um gritante desrespeito ao povo brasileiro.
Hoje,
meus amigos, compartilho do sentimento de cada um de vocês.
Assim como vocês,
pago os meus impostos e trabalho duro para fazer deste um país melhor, mas
esbarrei ontem naqueles colegas de profissão, que todos temos, que somente nos
envergonham.
Ontem, 233 justos pagaram por 172 injustos.
NOTA DO PÔSTER:
Faço minhas, com todas as vírgulas e is, as palavras do deputado Wandenkolk Gonçalves.
Uma vergonha, verdadeira aberração, a manutenção, no cargo, do deputado Natan Donadon (Sem partido-RO).
Pela benesse de 131 coleguinhas corporativistas.
Que, assim como o parlamentar, condenado pela Justiça e recolhido em presídio, devem compactuar e agir da mesma forma criminosa e corrupta, como Donadon.
Deputado Wandenkolk repudia postura dos colegas parlamentares que "absolveram" o deputado-presidiário |
Um comentário:
Nem dá pra enumerar quantas contradições nossos parlamentares cometeram.
Triste isso. O povo tem cobrar - já que nossos representantes não fazem o certo e justo.
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