Por Haroldo Silva
A cidade é
luz e ofertas.
Não há
estrela guia nos céus de Natal, apenas anúncios de mercadorias em promoções.
Não há
manjedoura, o Menino Jesus está guardado em embrulhos coloridos de papel de
luxo, adulterado e esquecido.
Os
presentes não são para Cristo; os daremos a alguém que amamos.
Os que não
conhecemos ou ignoramos não figuram da nossa lista de presenteados; sequer lhes
temos um abraço ou palavra de afeto, ou consolo.
E que Deus
nos perdoe, não há em nossa ceia assento aos
despossuídos, aos sem presentes que nos despertem o espírito natalino.
As vitrinas estão tão belamente produzidas que dá vontade de
levar tudo e encher a casa e a vida de alegria ao pé da árvore de Natal.
O menino, em frente a loja, olha tristemente cobiçoso o presente
que nunca imaginara ganhar, e, vendo agora, deseja-o mais que tudo, sendo que
jamais o terá.
O seu papai Noel é pobre, como ele.
O segurança desconfia daqueles pés descalços, do corpo sujo e
roupas de trapo, e o expulsa com sua superioridade física.
Tudo para proteger a clientela, outra criança que compra, com a
mãe, o brinquedo de Natal querido.
Mas não importa, o menino de rua tem outros amigos, filhos
do
mesmo infortúnio, o que o conforta e ele sorri agradecido, deixando-se distrair
pelas cores das luzes que confortaram seu sono e sonhos nalguma rua da cidade,
porque não há lugar para si nas hospedarias do mundo.
Dentro do templo natalino
tudo está à venda e com o que se tem, compra-se o que se pode.
A polícia está a postos, para garantir a ordem; precavida, caso
Jesus queira quebrar o comércio outra vez: é preciso proteger as lojas contra
esses arruaceiros e garantir-se um Natal de paz a todos.
Não a todos indistintamente, que isso já é exagero; mas apenas
àqueles que disponham de trinta, ou, certamente, muito mais moedas do tanto
quanto valha um Feliz Natal.
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